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Com direção de João Miguel, "Das 'coisa' dessa vida …" reestreia 06 de agosto no Teatro Sesi Rio Vermelho

Ricardo Fagundes em cartaz com o solo "Das 'coisa' dessa vida …" no Teatro Sesi Rio Vermelho

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Com direção de João Miguel, espetáculo retorna após premiação e apresentações em Salvador, interior da Bahia, Ceará, Pernambuco e São Paulo. Nalde ainda criança colocava a toalha na cabeça e fazia da cama seu palco. "... o quarto já não era mais quarto … era tudo outra coisa. Queria brincar de ser …". Ali só sentia, não entendia. Nessa época chamavam, "Naldo …". Cresceu, rebolou e chamou a atenção, olhares preconceituosos e homofóbicos. Não entendia, só sentia a alegria que o movimento despertava. Nem homem, nem mulher, nem binário, nem … Não se define. 

Da mesa do seu bar de beira de estrada, com a brisa fria e úmida, Nalde convida a quem queira brilhar que nem Vagalume para assistir "Das 'coisa' dessa vida …", servindo café, vendendo guloseimas, flores e o que desejar. "Vem quem quiser e fica se for de paz e se tiver vontade … só deixo passar verdades". E nesse contar de histórias, Nalde vai ocupar o palco do Teatro Sesi do Rio Vermelho, sábados e domingos, de 06 a 21 de agosto, às 20h, com classificação de 12 anos. Os ingressos estão a venda pelo Sympla (https://www.sympla.com.br/das-coisa-dessa-vida__1649977) e portaria do teatro. 

Para viver e friccionar escrevivências queer de um corpo estigmatizado, que desvia da normalidade, o ator Ricardo Fagundes - responsável pela concepção e idealização do espetáculo, que assim como Nalde está em cena pela vontade de "Quero Existir". O solo, que conta com direção de João Miguel e texto de Gildon Oliveira, é uma obra em que o trabalho do ator é o foco.

Vale lembrar que, estreado em 2019, com temporada no Teatro Gamboa Nova, o espetáculo recebeu três indicações ao Prêmio Braskem de Teatro 2019 - Direção, Texto e Ator. Pela atuação, Ricardo Fagundes ganhou o Prêmio Braskem de Teatro 2019 – categoria Ator. Vale pontuar que, Fagundes em 2022 comemora 25 anos de carreira.

A canção-tema do personagem composta por Rebeca Matta e Luisão Pereira com participação de João Miguel através de seu poema “Seu corpo luminoso pode”, dá voz a Nalde, pessoa que compartilha com o público suas histórias enquanto se arruma para uma performance, preparada para o ídolo, que a qualquer momento pode chegar.

Vinde do Brasil profundo e com sonhos, Nalde sofreu muitas repressões e tentou se enquadrar nas regras sociais para não sofrer, até que um dia, percebe que não nasceu para agradar os outros, então decide viver a vida que sempre desejou. “Sai do seu interior e das catalogações impostas para poder existir”, declara João Miguel.

Desatar de nós
Ao partir em busca da sua verdade, Nalde encontra inúmeras dificuldades, mas com a habilidade das pessoas que precisam sempre seguir em frente, as supera. Assim, de coração aberto, fala de seus amores, desamores, das relações familiares, crenças e, também, reflete sobre suas aventuras e desventuras na tortuosa estrada da vida. "... eu não paro, eu não abaixo, eu não rendo, me nego a cair no chão depois da degola …". 

De um dos amores, "muita coisa mal curada, peso que ainda arrastava", acumalada ao silêncio dolorido de outro, criou casca de defesa para outros, deixando-os ir, "se fico, tudo vira esforço e deixa de ser cuidado". "Eu acostumei … Aprendi a apanhar … A gente se acostuma a doer menos …". 

Nalde é resiliência, que aprendeu a destampar o nó e chorar com Vó. Esta ganha uma das cenas mais emocionantes do solo. "Aprendi com a vida e com vó … Quando me via desgostando, me abraçava …". De acordo com o dramaturgo, a plateia deve se identificar com o personagem porque a busca dele pela construção de sua identidade tem pontos universais com as histórias individuais de cada um. “Nalde nasceu dando a cara para bater. O depoimento de Nalde é atual e conta como conseguiu riscar seu espaço de liberdade e brilhar no palco”, complementa o ator.

Construção da cena
Nalde nasce da vontade verdadeira de Ricardo Fagundes de existir em cena. Deste ímpeto, Nalde é movimento escrevivente de corpos que não se contentam em ser definidos, mas que desejam vivenciar os espaços sociais com liberdade e dança. Nalde é corpo Queer. De acordo com João Miguel, a encenação em “Das ‘coisa’ dessa vida...” não seguiu o modelo convencional do teatro, pois o personagem não começou preso ao texto. 

Persona surge da fusão de três impulsos: memórias do ator, healing (técnica de cura energética que utiliza a meditação para o autoconhecimento) e deslocamentos, ou seja, apresentações de cenas em espaços públicos. “Está no cerne da nossa criação, entrar num espaço vivo e interagir com ele”, explica o diretor. 

O primeiro desafio conferido a Fagundes interpretando Nalde foi dialogar com o público durante I FestVILA, em 2018, intercâmbio que promove a prática de arte cênicas, na região do Cariri, interior do Ceará, idealizado por Dane de Jade e João Miguel. O batismo de Fagundes aconteceu num ambiente predominante masculino, a "Toca do Zé Pajé", bar localizado na cidade do Crato, durante a transmissão de uma partida de futebol na tevê. 

De acordo com o intérprete, antes o trabalho estava limitado apenas à sala de ensaio e, na Toca, percebeu que o personagem transformou o lugar. Por causa dessa apresentação, sua interpretação traz um jeito de falar da região, o sotaque e a forma de contar a história. “Formou-se a alma de Nalde no Crato”, afirma o intérprete. 

Ainda em laboratório de construção do espetáculo, Fagundes apresentou trechos em pontos de Salvador, nos bairros do Alto do Cabrito, Vista Alegre e Santo Antônio Além do Carmo, no interior do estado, nas cidades de Santo Amaro e Santa Maria da Vitória e também na cidade de São Paulo. Ele relata que a todo instante ouvia do diretor a indicação de ir para rua experimentar...

E assim permanece existindo, após estrear, pois Nalde é personagem movimento. Ao longo das temporadas, este espetáculo tem sido apresentado, de forma voluntária, em lugares vivos, cujo público, dificilmente, tem possibilidade de ir ao Teatro. O objetivo é aguçar a curiosidade, promover acessibilidade à Arte e estimular o hábito da ida ao Teatro. 

Penitenciária Feminina de Salvador, universidades e FUNDAC (Fundação de Desenvolvimento da Criança e Adolescente), Casa Aurora, Casa Ninho - todos na Bahia. Em São Paulo, Casa Florescer, Ocupação Quilombaque, Faculdade Célia Helena foram os lugares percorridos.

Memórias 
A construção do espetáculo durou um ano e meio entre ensaios, laboratórios, finalização do texto e definições dos elementos cênicos. Os primeiros estímulos para a criação do solo vieram das lembranças do ator relacionadas à infância, adolescência e ao convívio familiar que foram ressignificadas através dos movimentos da dança e assim geraram novos elementos para a construção da cena. “O nosso corpo é um armazenamento de recordações de tudo que a gente vive”, explica o diretor. 

Paralelo ao trabalho inicial, Gildon e Fagundes se encontravam periodicamente para conversar sobre as experimentações dos ensaios e discutir o encaminhamento do enredo. O dramaturgo conta que o texto não é biográfico: “as inspirações vieram de muitas histórias de pessoas que não se encaixam nos padrões impostos socialmente e como elas fazem para viver. Assim como em artistas que atravessaram a conjuntura cultural do país nas últimas décadas”, afirma o autor.

Trinca nordestina 
“Das ‘coisa’ dessa vida...” é encabeçado por um trio baiano. Assina o texto do solo, Gildon Oliveira também autor de filmes e séries, recentemente, teve o roteiro “Beleza da Noite” selecionado, entre 32 projetos, para virar especial de fim de ano produzido pela TV Bahia em parceria a Globo Filmes. 

Conhecido do grande público, primeiramente, pelos trabalhos nas telonas, João Miguel (Pacarrete/Estômago/Xingu/Cinema, Aspirinas e Urubus) tem mais de vinte filmes no currículo, muitos prêmios e críticas elogiosas, com novelas e séries da Globo e da Netflix. Todavia, o baiano da capital não abandonou o teatro e, de tempos em tempos, volta a cartaz com o seu monólogo Bispo, que conta a história do artista sergipano Arthur Bispo do Rosário, com o qual já se apresentou em várias cidades brasileiras.

Já o ator Ricardo Fagundes iniciou a carreira no espetáculo que reinaugurou o Teatro Vila Velha, em 1998, “Um Tal de Dom Quixote”, dirigido por Márcio Meirelles. De lá para cá, o também soteropolitano trabalhou, durante três anos, com a Companhia Baiana de Patifaria em “A Bofetada” e “Capitães da areia”, e fez o circuito Caixa Cultural e SESC CE com a montagem “O grande passeio”, direção de Meran Vargens.

Como dançarino, Fagundes integrou a Companhia VilaDança em “Da ponta da língua a ponta do pé” e também “Aroeira”. Atualmente, ele é doutor em Artes Cênicas pelo PPGAC da Universidade Federal da Bahia.

Serviço
O quê - "Das 'coisa' dessa vida …", solo com Ricardo Fagundes, direção João Miguel e texto de Gildon Oliveira
Quando - 06, 07, 13, 14, 20 e 21 de agosto de 2022, às 20h
Onde - Teatro Sesi do Rio Vermelho
Ingressos - R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) - venda pelo Sympla (https://www.sympla.com.br/das-coisa-dessa-vida__1649977) e Bilheteria do Teatro

Ficha-técnica
Direção: João Miguel
Texto: Gildon Oliveira
Atuação: Ricardo Fagundes
Cenário: Zuarte Jr.
Iluminação: Luiz Guimarães
Canção-tema: Rebeca Matta, Luisão Pereira e João Miguel. 
Assessoria de Imprensa: Nsanga Comunicação - Rafael Brito
Aulas de canto: Maestro ngelo Rafael  
Criação Gráfica: Filipe Silveira 
Arte: Tita Fernandes  
Fotografia: Caio Lírio 
Videomaker: Gabrielle Guido 
Produção: Benin Ortiz e Ricardo Fagundes

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